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  • Guiné-Bissau: Aristides Gomes recorre ao Tribunal Africano dos Direitos Humanos
    O antigo primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, depois de ter apresentado queixa junto da justiça do seu país vai interpor um processo junto do Tribunal Africano dos Direitos Humanos. O político, actualmente radicado em França, denuncia uma tentativa de rapto aquando da sua participação em Novembro de 2022, na capital guineense, no congresso do PAIGC. RFI: Qual é o seu estatuto ? Está radicado em França? O senhor tem, mesmo, a nacionalidade francesa ? Aristides Gomes: Sim estou radicado em França. Não tenho a nacionalidade francesa, mas sempre vivi cá. Formou-se cá [em França], viveu cá várias vezes ao longo da sua vida ! Formei-me cá e tenho os meus filhos que nasceram cá e que são franceses. Eu nunca pedi a nacionalidade. Mas enfm... Isto apesar de, segundo a lei, ter o direito: por casamento e pela situação dos meus filhos, etc. No entanto, apesar de estar em França, o senhor primeiro-ministro deu a entender que, obviamente, se interessava pelo que estava a acontecer no seu país natal, que está na perspectiva de eleições que deveriam ter lugar, agora, a 4 de Junho de 2023. Já houve várias datas, a Assembleia também já foi dissolvida há largos meses. O senhor interessa-se, vai votar, pelo menos ? Vou votar. Fui fazer o registo nas listas eleitorais há dias, aqui, em Paris, portanto vou votar. Eu gostaria de estar presente na Guiné-Bissau, por ocasião das eleições e participar na campanha eleitoral. Mas, infelizmente, pelos vistos, o regime não quer que eu esteja presente, portanto eu vou apoiar o meu partido e vou votar no exterior. Diz que tem dúvidas sobre o facto de que poderá ser recebido no seu país natal. O certo é que, ainda assim, o senhor lá esteve. Em Novembro participou no Congresso do PAIGC, uma força à qual aderiu em 1973, apesar do parêntesis do PRID, mas voltou ao PAIGC há largos anos. O que é que aconteceu, exactamente ? E quais são as consequências do que terá ocorrido ? Apresentou queixa, aonde ? Na justiça guineense por tentativa de rapto? Apresentei. É a segunda vez que apresento queixa na justiça guineense. E é a segunda vez que terei de recorrer à justiça internacional. Pela primeira vez apresentei na Guiné e no Tribunal da CEDEAO [Comunidade económica dos Estados da África ocidental]. Desta vez apresentei na Guiné-Bissau, estava à espera da reacção da instituição judicial, que não reagiu já lá vão três meses. Por conseguinte, já estou a preparar uma queixa para o Tribunal Africano dos direitos humanos. O que aconteceu é que fui ao Congresso. Foi no mesmo dia que eu cheguei. Estive no aeroporto, saí do aeroporto, fui almoçar, fui à sala do Congresso, e por volta das 21 e 30 da noite, aparece um grupo, do Ministério do Interior, um grupo de paramilitares ou de militares, encapuçados, gente encapuçada, armada até aos dentes, com coletes à prova de balas, que veio para me raptar. Quando viu surgir essas silhuetas o que é que lhe ocorreu ? Eu estava à espera que alguma coisa acontecesse, porque quando eu cheguei a Lisboa, na quarta-feira, devia seguir para Bissau na quinta-feira, havia um voo da TAP. Na quinta-feira não fui porque tive alguma informação em como a minha presença era indesejável. Na quinta-feira tive a informação em como teria havido polícias que se apresentaram no guichet da TAP no aeroporto, pedindo a lista dos passageiros para ver se o meu nome constava na lista. Portanto eu já sabia que a minha presença era uma presença incómoda. Ainda assim eu insisti e fui na sexta-feira. Porque eu não estava a querer aceitar que, tendo ficado nas Nações Unidas durante onze meses e que a justiça guineense não conseguiu provar nada contra mim, aliás, não foi a razão pela qual eu teria ido às Nações Unidas: fui às Nações Unidas por iniciativa das Nações Unidas e das forças da CEDEAO que estavam presentes e que me protegiam. Mas como depois do Sissoco [Umaro Sissoco Embaló, presidente da república] assumir o poder, pela maneira como assumiu, mandou embora as forças da CEDEAO. Então em colaboração com as Nações Unidas, e a CEDEAO, quis que eu saísse de casa e que ficasse sob a sua protecção. Mas as Nações Unidas acharam, na altura, que era melhor eu ficar nas Nações Unidas, do que ir para o aquartelamento da CEDEAO. Portanto aí não havia muita confiança. Seis meses depois, é que surge, na verdade, uma tentativa de justificação por parte das autoridades judiciais da Guiné-Bissau, através da Procuradoria na altura. Eu reagi e meti uma queixa porque o que estava a ser evocado não tinha nem pé nem cabeça. Falemos, então, um pouco do que está a ser evocado. Sabemos que durante os vários períodos em que o senhor foi chefe do executivo  houve, por exemplo, uma grande apreensão de droga. Depois falou-se em desvio da dita droga. Fala-se em vários desvios de fundos. Há ou não há queixas-crime contra o senhor? Havia ou não havia mandado de detenção contra a sua pessoa? Não há queixa nenhuma. Não há investigação nenhuma, não há dossier nenhum contra a minha pessoa. Aliás não sou eu que digo isso, é o próprio Tribunal da Relação de Bissau, que acabou por emitir um comunicado, a dizer que não havia nada. Em Outubro do ano transacto ! Exactamente, Por isso este ano eu estranhei que tivesse havido, portanto, o que aconteceu no Congresso. Mas no Congresso, já estava preparado psicologicamente para isso, mas felizmente as pessoas que estavam no Congresso, havia mais de mil pessoas no Congresso, reagiram, de forma determinada, e acabaram por dissuadir aquela equipa de militares ou paramilitares que tinha vindo para me raptar, porque não havia convocação nenhuma, por parte da Procuradoria. Eles exibiram um papel, horas depois, nas redes sociais. Nesse papel há uma assinatura de três ditos Magistrados, porque não há nomes, há simplesmente três assinaturas. No papel não dizem nada, só dizem que há uma ordem de detenção de Aristides Gomes. Face a isto, eu considero que foi uma tentativa de rapto porque, numa sexta-feira, num fim-de-semana, por volta das 21 e 30, num Congresso, veio gente encapuçada, armada até aos dentes, com coletes à prova de bala e tudo, para tentar levar uma pessoa, não podia ser senão uma tentativa de rapto ! Por isso é que eu meti uma queixa. E até agora não há reacção nenhuma por parte das autoridades judiciais da Guiné-Bissau, por parte da Procuradoria. Eu estou à espera. Passados uns três meses, naturalmente que tenho o direito de passar para a frente, neste caso concreto fazer uma queixa para o plano internacional, como eu fiz em 2021. A relatora do Conselho dos Direitos Humanos da ONU veio também pedir explicações às autoridades guineenses sobre vários casos, o último caso sendo Marcelino Intupé, que foi agredido. Reconheceu, inclusivamente, um dos agressores, que seria um próximo colaborador da presidência da república. Até ao momento as autoridades de Bissau não reagem. O senhor dizia que o Estado de direito na Guiné-Bissau está no chão, está por terra, é mesmo assim ? Está por terra e é uma pena. Eu sinto e estou triste, como disse há dias em Lisboa, porque eu participei nessa edificação, com muitas dificuldades, nós tivemos grandes dificuldades. Mas conseguimos, na altura, pôr de pé todo um dispositivo legal e institucional, e houve eleições na base desse dispositivo legal e institucional, desde 1994 até agora. Mas desta vez nós estamos a assistir a coisas que nem sequer são dignas do período anterior à democracia, do período do partido único !  Quer dizer o sistema do partido único, toda a gente sabia e conhecia o sistema. E cada um fazia o recurso a uma certa auto-censura porque conhecendo o sistema, conhecendo as regras do jogo. Mas a partir do momento em que nós tivemos uma experiência de dezenas de anos de Estado de direito, de democracia, não se pode aceitar de maneira nenhuma que aconteçam coisas que estão a acontecer neste momento: raptos, violência de todo o tipo, ataques a rádios. Caso da Capital FM ! Caso da Capital FM -, não foi só uma vez, foram duas vezes, com prejuízos materiais e humanos incríveis. Muita gente detida desde a suposta tentativa de golpe de Estado de 1 de Fevereiro, sem culpa formada ! Muita gente detida ! São coisas que são dignas de um Estado de degenerescência incrível. Paralelamente, temos um activismo diplomático, se calhar,  jamais visto, inédito ?  A Guiné-Bissau preside, neste momento, a comunidade regional. É a primeira vez que o país o faz, é mesmo a primeira vez que um Estado lusófono consegue chegar a esse patamar (também só há 2 na CEDEAO, obviamente). Um presidente que vai à Ucrânia, que vai à Rússia, para não falar de tantas deslocações à escala planetária. Que olhar é que tem sobre o facto de que, porventura, a diplomacia guineense nunca tenha estado tão activa e ao mais alto nível do Estado ? Eu acho que pode parecer paradoxal, mas compreende-se. Porquê? Porque nós estamos numa situação internacional bem específica. Há o regresso de uma confrontação internacional entre potências, mais ou menos antagónicas. E há um posicionamento, um re-posicionamento, de cada uma dessas potências para manter a sua influência na zona em que sempre exerceu influência. Portanto esse jogo que os sociólogos diriam jogo no seio do campo político, há uma confrontação de estratégias para que cada um possa manter a sua influência na sua zona específica. Portanto os regimes, os regimes não democráticos, aproveitam-se dessa situação. Há esses jogos de interesses dessa confrontação de estratégias no campo político internacional, que faz com que a parte da democratização, a parte dos direitos humanos é esquecida. Em termos concretos acha que a França teria que perder o seu tempo em condenar os actos de violência, os actos de violação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, em relação à necessidade que a França tem de ter alguma influência no plano, no espaço, da CEDEAO ? Nunca a França tinha tido um presidente seu a visitar a Guiné-Bissau, diga-se, em abono da verdade, com o que aconteceu a Emmanuel Macron ! Exactamente. Portugal, por exemplo, não teria perdido a oportunidade de manter alguma influência sobre a Guiné-Bissau, optando, eventualmente, pela condenação daquilo que acontece sobre os direitos humanos, etc. Nós estamos numa situação internacional em que a prioridade é que cada um mantenha alguma influência sobretudo face àquilo que nós estamos a ver, que está a acontecer nesses países. E nós estamos também numa situação em que o "bloco ocidental", precisa desses países, da influência nesses países, para fazer face à Rússia, à China, e a outras potências que estão a emergir, à Turquia, aos Emirados Árabes Unidos, à Arábia Saudita. Portanto nós estamos numa situação de recomposição internacional, de recomposição do espaço do campo político internacional, a recomposição da ordem que estava estabelecida depois da Segunda Guerra Mundial, com a emergência de novas pequenas potências, a decomposição da própria potência, super-potência americana. Nós estamos numa situação em que cada uma das potências está tão preocupada com o seu posicionamento, nesse novo espaço, nesse novo campo reestruturado, ou em estado de reestruturação no plano internacional, que põe de lado a diplomacia antiga... que era baseada na condenação, no respeito dos direitos humanos, na influência cultural, etc. Nós estamos numa situação diferente, por isso é que a diplomacia guineense surge como uma diplomacia activa. Mas não tem nada de activa. Mesmo que não estivesse activa, teria de ser acordada porque teria que ser solicitada. Hoje em dia todos esses países estão a ser solicitados pelos Estados Unidos, pela China, pela Rússia, pela Turquia, pelos Emirados Árabes Unidos porque há uma recomposição. . Pela primeira vez vai haver, ao que tudo leva a crer, uma primeira cimeira Espanha/CEDEAO. Nunca aconteceu, porventura acontecerá sob presidência espanhola. A Espanha preside a União Europeia a partir de 1 de Julho, neste momento a Guiné-Bissau está a presidir à CEDEAO… Exactamente, perfeitamente ! A bipolarização que existia durante a Guerra Fria no plano internacional: Estados Unidos de um lado, a antiga União Soviética do outro lado, e depois o domínio praticamente total dos Estados Unidos, depois da queda do Muro de Berlim, tudo isso está a mudar ! Porque, hoje em dia, há uma existência multipolar de influência internacional. Portanto com novas potências que surgem, por isso é que a Rússia está a lutar para poder manter a sua potência, para não perder, tendo em conta a expansão da própria NATO. E nessa perspectiva a Rússia foi até agredir um país que é a Ucrânia. Portanto é nesse perspectiva dessa recomposição multipolar, no plano internacional, que nós devemos enquadrar nesta situação actual em que os países, os regimes mais ditatoriais, com uma vocação mais autocrática têm o espaço aberto para poderem mostrar a sua verdadeira dimensão de regimes autocráticos como a Guiné-Bissau. Não há nada finalmente de paradoxal, quer dizer é uma realidade. Nós temos de fazer face a essa realidade. O seu partido teve congresso. Haverá eleições, supostamente em Junho. A ver vemos se esta nova data é cumprida ou não... Um partido histórico que, de repente, é relegado para uma posição secundária, que perde a sua maioria no hemiciclo. Como é que antevê este novo embate eleitoral? Acredita que o PAIGC, com Domingos Simões Pereira ou com outra pessoa, conseguirá, desta feita, voltar a reatar com a maioria na Assembleia Nacional Popular? Eu acho que a primeira coisa a fazer é lutar para que as eleições sejam feitas. Segundo que sejam feitas de maneira transparente com as instituições, que vieram do processo de democratização, que infelizmente estão a ser postas por terra. Quer dizer que é preciso que, primeiramente, haja eleições em Junho porque não houve eleições em Dezembro. A Assembleia foi dissolvida. Neste momento há uma destruição do sistema político guineense. O governo já é um governo ilegal, se nós tivermos que analisar à luz da Constituição porque não existe Assembleia. O Governo no nosso contexto emerge da legitimidade da Assembleia. A Assembleia já não existe, não há contra-poderes, e o presidente está a ultrapassar, mais do que ultrapassar o seu espaço que lhe é dado, que lhe é atribuído pela Constituição. Primeiramente é preciso repor as coisas, pelo menos que haja uma CNE, uma Comissão Nacional de Eleições, independente e que o seu Presidente seja eleito de uma forma, enfim, que é preciso negociar isso. Cipriano Cassamá não parece ver esse dossier como sendo prioritário? Exactamente ! Não só não parece como sendo prioritário, mas ele mesmo está a fazer, está a colaborar na destruição da instituição parlamentar. Está a evacuar obstinadamente essa função que a Assembleia tem, mesmo dissolvida, que a sua comissão permanente teria, na solução desse marasmo ao nível da Presidência da Comissão Nacional das Eleições. Por razões ligadas ao seu posicionamento político interno no PAIGC, portanto ele acha que não está a conseguir aquilo que gostaria de conseguir no seio do PAIGC, portanto a melhor via seria de criar esses problemas. Eu diria, para responder à sua questão: que o PAIGC tem que se bater, primeiramente para que haja eleições. Em segundo plano para que as instituições de garantia da transparência possam funcionar. Para que o PAIGC possa encarar ganhar as eleições: e eu penso que se essas condições estiverem reunidas, o PAIGC ganha. Não estou a ver onde é que os outros partidos poderiam ganhar mais eleitorado. O MADEM G15, o PRS ? Não estou a ver que haja grandes mudanças porquê? Porque a própria estrutura, as estruturas sociais da Guiné-Bissau, o panorama global não mudou muito. Não acho  que possa haver terramoto nesse aspecto. As únicas condições são aquelas que eu apontei. Meio século de independência ! Foi há 50 anos que tinha sido assassinado em Conacri Amílcar Cabral. Estamos a caminhar a passos largos para Setembro, aí a proclamação da independência em Madina do Boé. 50 anos depois olhar olhar para o seu país, olhar para as ideias de Cabral... Que ideias é que lhe vêm à cabeça sobre se valeu a pena tanta coisa que o PAIGC tentou fazer ? Meio século depois terão falhado também muitas coisas, não acha ? Valeu a pena fazer aquilo que se fez. Porquê? Porque há uma traçabilidade histórica na Guiné-Bissau que traduz uma capacidade do povo da Guiné-Bissau em construir uma Nação, construir um Estado. Agora as peripécias desse processo são peripécias que se enquadram também em certa medida nas próprias peripécias do continente africano. O modelo importado de Estado Nação ! Exactamente ! Se nós tivermos que comparar as nações africanas, os Estados africanos, com o Estado weberiano que nós conhecemos na Europa e depois na América do Norte, particularmente, que decorrem de um processo normal de desenvolvimento industrial, capitalista, etc…, com todas as suas condições de concorrência, e que essas condições tiveram que criar um Estado racional, um Estado que é objecto de toda uma série de teorias na Europa. Portanto um Estado que tinha pernas para andar. Se nós tivermos feito essa comparação, compreendemos facilmente que 50 anos na vida de um Estado que foi criado por um voluntarismo nacionalista, não por um processo consolidado de uma economia de desenvolvimento etc, não significa grande coisa na História desse Estado. A vitória foi a libertação do jugo colonial: quanto ao desenvolvimento? Exactamente ! Quanto ao desenvolvimento não tem, não está a ter todas as condições necessárias para que pudesse fazer uma coisa muito diferente. É verdade que isso não pode servir de pretexto para que nós possamos pôr de lado os erros que foram cometidos, as dificuldades, as incapacidades que se revelaram. Não tem nada a ver. Aliás nós estamos a ver o bloqueio que este regime está a cometer nessa senda, na verdade, continua. Portanto, enquanto a Guiné-Bissau estiver na situação em que está, quem é que pode ter a vontade de investir, para haver investidores. Será que nós temos condições para que possamos de facto chamar os investidores para a Guiné-Bissau? Não temos. E se os jovens, porque são a maioria da população do seu país, já não conhecem, porventura tão bem quanto as outras gerações, a luta de Cabral... e, porventra, já não atribuam tanta importância à conquista de uma independência que o PAIGC levou e que conseguiu... não acha que isso pode ser também um travão, para uma certa erosão que pode estar a ocorrer para o eleitorado do PAIGC e uma adesão a movimentos mais jovens, mais recentes ? Eu vou-lhe dar um exemplo concreto. Eu penso que esse factor nunca foi um factor prejudicial ao desenvolvimento. O que é prejudicial ao desenvolvimento é o facto de não sermos capazes de construir um Estado que possa ser utilizado como instrumento de desenvolvimento e que possa constituir um motivo de orgulho para esses jovens. Porque o que é que sustenta, em termos subjectivos, o nacionalismo nos Estados Unidos, em França, na Alemanha? É, digamos, a capacidade que o Estado tem nesses países de oferecer aos cidadãos melhores condições de vida, perspectivas de progresso, uma segurança social, uma segurança social, uma segurança na sociedade etc… Portanto o sistema de ensino, o sistema de saúde, por aí fora. É isso que, de facto, está por detrás sempre da solidez de um Estado. Quando os cidadãos não têm confiança no Estado, não podem esperar grande coisa, só têm a repressão em face, o Estado não pode resolver os seus problemas: a pobreza está a crescer na Guiné-Bissau, como em grande parte dos países africanos. Como é que essa gente pode orgulhar-se de ser, de ter um passaporte guineense ou então do Mali ou do Burkina, ou do Mali? Não podem ! Quando os jovens preferem morrer no mar para tentar atingir a Europa, do que ficar nos próprios países, como é que nós podemos interpretar isso? Nós interpretamos isso como sendo um falhanço desses Estados na visão dessa gente que prefere morrer no Oceano, e na população em geral. É isso que faz com que eventualmente algumas camadas sociais se possam esquecer do passado, daquilo que se fez no passado. Agora o passado servirá, pode não servir para certas camadas sociais que estão em dificuldades neste momento. Mas à medida que se retoma o orgulho naquela bandeira que foi construída, graças à acção de muita gente como Amílcar Cabral e outros... À medida que nós retomamos esse orgulho, o que é que acontece? As pessoas têm necessidade de se lembrar. Porque é que se estuda o Estado francês durante a Idade Média? Porque é uma coisa palpável que está a servir as pessoas neste momento. No dia em que não servir às pessoas, as pessoas não têm o interesse de procurar as origens desse Estado. É o mesmo funcionamento. O esquecimento é sempre um esquecimento social e historicamente instituído. Depende da trajectória, depende das dificuldades das pessoas, depende dos problemas, depende da necessidade. Porque a memória: esquecer ou não esquecer ? É uma questão ligada ao tratamento da sua identidade histórica, do seu percurso histórico. A memória, ela é selectiva, em função da sua utilidade para quem se esquecer ou se lembra, ou quem se interessa. Portanto, no dia em que o Estado, que foi construído graças à luta pela independência, à medida que este Estado tiver tido mais força, mais utilidade para as pessoas, será maior o interesse dessas pessoas, à procura daquilo que levou à construção desse Estado.
    3/3/2023
    24:40
  • Filho da emigração homenageia “a odisseia” dos portugueses
    O livro “Une Odyssée Portugaise (Presque Ordinaire)” conta a história de um homem e, através dele, de milhares de portugueses que deixaram o país durante a ditadura. O seu autor é Mário Queda Gomes que transforma o pai num herói de carne e osso: um homem do povo que passou a infância numa aldeia portuguesa perdida, pequena e mesquinha, na década de 50, que começa a trabalhar em criança e cujas aventuras em busca de uma vida melhor o levam para Lisboa, Angola e França. Oiça aqui a entrevista. RFI: "O Mário veste a personagem do seu pai, Carlos, e conta a história da vida dele como quem dá um murro na mesa e no estômago. Porque é que decidiu escrever este livro?" Mário Queda Gomes, Autor de “Une Odyssée Portugaise (Presque Ordinaire)”: "São histórias que eu ouço desde pequeno à mesa, ao domingo. O meu pai conta histórias de quando era criança na Beira Alta, de quando começou a trabalhar em Lisboa e, mais tarde, quando chegou a Angola e quando chegou à França em 1975. São aventuras. Quando leio, gosto de livros com aventura, com humor, com uma parte cómica. Eu achei que a história do meu pai era perfeita para ter um livro com muita aventura e humor." "Porque é que o livro se chama 'Uma Odisseia Portuguesa (Quase Normal)'?" "Foi complicado encontrar o título certo. Primeiro chamava-se “Le Roman de Carlos”, mas a editora não gostou e tivemos que pensar num outro título. Este título, “Uma Odisseia Portuguesa”, abre o campo de possibilidades. Em vez de focar na história no meu pai, a ideia era focar na história de milhares de portugueses que viveram também a mesma aventura. E, porque não também - porque, hoje em dia, a imigração continua a ser um tema de actualidade - através do meu pai falar dos portugueses, mas também de todos as pessoas que um dia deixaram o país para vir, por exemplo, para França." "E porque é que assumiu a pele do seu pai enquanto narrador?" "Isso também foi uma escolha bastante natural porque eu adoro a maneira como o meu pai conta histórias. Eu tentei reproduzir um pouco do talento oral do meu pai. Quando ele conta essas misérias, ele põe o pessoal a rir, portanto, eu tentei, quando escrevi, reproduzir essa maneira de falar muito portuguesa e de retratar o passado do meu pai mas com humor." "Há muito sarcasmo a acompanhar relatos de violência de pais contra filhos, de homens contra mulheres, de crianças contra crianças, de vizinhos contra vizinhos, de portugueses racistas e machistas contra angolanos e angolanas, de portugueses contra os retornados, de franceses contra os portugueses, etc, etc. E, às vezes, fica-se com um amargo na boca e pensa-se: será que ele está a denunciar ou a justificar?..." "Essa foi a parte complicada para ter ali um equilíbrio, para tentar retratar aquilo que é a realidade ou que foi a realidade. Essa foi a parte complicada, de facto, porque os portugueses em Angola não foi uma missão filantrópica. Ao mesmo tempo, eu sinto que quando o meu pai fala de Angola fala com nostalgia, que ele gostava mesmo de Angola. São os mais belos anos da vida dele quando estava em Angola, mesmo na tropa, gostou também dessa fase da vida dele. Foi essa a dificuldade, de arranjar ali um equilíbrio para denunciar, mas com ironia. Ou seja, dizer por vezes o contrário daquilo que se pensa, mas acabar por dizer aquilo que eu pensava através do meu pai e outras personagens." "Faz questão de misturar referências bíblicas, ditados populares portugueses, figuras dos mitos do Império, referências musicais e literárias portuguesas. Há, também, palavrões e uma linguagem assumidamente coloquial. Escreve em francês, mas as referências e os insultos são em português. Porquê este cruzamento de registos?" "Primeiro, porque gosto muito da cultura portuguesa. Eu sou professor de português aqui em França e tenho essa missão de, de certa forma, promover a cultura portuguesa junto dos meus alunos. Quando escrevi o livro, acho que guardei essa mentalidade de tentar promover aquilo que é nosso, português, e escrevi em francês porque a ideia também é de se promover a história de Portugal, aquilo que foi o percurso de muitos portugueses antes de chegar à França, junto de um público francês. Espero que que este livro também chegue às mãos de um público francês porque também fiz um trabalho com a língua francesa. Tentei não escrever de maneira clássica, tentei criar um estilo novo. Eu pensava o livro em português e escrevia em francês. Essa foi a minha linha de escrita: pensar em português, escrever em francês. E foi uma pequena ginástica que eu tive que fazer no início, mas depois consegui ter aquela dinâmica e é um encontro entre a cultura francesa e portuguesa." "No livro, o Mário não poupa nada, nem ninguém, muito menos a própria família. Comecemos com a infância do narrador, Carlos, na verdade, o seu pai.  Ele fala de uma aldeia mesquinha, “Lobras”, que descreve como “o fim do mundo”; conta que o pai dele quase matou a esposa com uma sova; que a mãe alcoólica Maria da Paixão preferia comprar vinho do que alimentar os filhos; que a professora primária dona Arminda tinha como método de ensino dar reguadas na cabeça dos meninos; que não teve direito a uma infância e que teve de deixar a escola para trabalhar; que o tio quase morria numa espécie de ritual de bruxaria, etc. Foi o seu pai que lhe contou? Ele acompanhou-o na escrita?" "Sim, exactamente. São histórias que eu ouço desde pequeno. Quando o meu pai contava essas histórias à mesa, eu ficava fascinado com aquelas histórias porque eu nasci em 1979, em França, no conforto, num país com uma democracia consolidada, uma grande potência mundial, portanto, para mim, ele era um livro. Era um livro de aventuras quando o meu pai contava as histórias. Essas histórias são verdadeiras e quando eu quis escrever um livro essa história, enfim, havia tanta aventura para contar que era só recolher o testemunho do meu pai! Tentar, claro, fazer o meu trabalho de autor e fazer um livro com uma dinâmica, com uma aventura em todas as páginas e, também, reproduzir a forma de contar do meu pai que,  mesmo quando conta as misérias, põe o público a rir. As pessoas que estavam à mesa riam das misérias do meu pai." "O Mário teve o cuidado de alterar alguns nomes e mesmo a própria localidade, 'Lobras'…" "Exacto. O meu pai teve uma infância um pouco complicada e eu quis trocar o nome da aldeia porque digo muito mal daquela aldeia e não queria prejudicar as pessoas que moram lá. É uma aldeia da Beira Alta. E não digo mais…" "Farto de ser explorado em Lisboa, ainda adolescente, Carlos decide mandar-se para Luanda e pede emprestado dinheiro a uma prima que lá estava para embarcar. Em Angola, é novamente explorado e depois chega à idade para ir lutar para o mato contra os que lutavam pela sua independência. Você mostra a guerra do ponto de vista do seu pai, um branco, mas também tenta denunciar a desproporção de forças e os crimes hediondos que os portugueses cometiam, não é?" "Exactamente. Ainda por cima, o meu pai conta aquilo que quer. Tentei contar as histórias vistas pelo meu pai, mas também quis dar um retrato de uma guerra que é sempre uma guerra. As guerras são sempre sujas. Tentei também contar esse ponto de vista e conseguir, mesmo através da sua personagem, dar uma mensagem pessoal.  Arranjar um equilíbrio entre aquilo que era a realidade vista pelo meu pai, mas também a minha parte de autor de não dar a imagem de uma guerra bonita e perfeita. Nenhuma guerra é assim." "A seguir conta que os portugueses nas antigas colónias se sentiram completamente abandonados depois da Revolução dos Cravos e que era preciso sobreviver ao que chamou de 'apocalipse colonial' com a vingança das pessoas que durante séculos foram escravizadas e depois colonizadas. Ainda que fosse assim que o seu pai viveu isto, contar esta história é mandar uma pedra para o charco ou é perpetuar uma narrativa, entre aspas, branca?" "É uma boa pergunta. Eu tentei ser fiel ao testemunho do meu pai. Ele viveu essa fase da história que foi a derrocada portuguesa nos anos 75. Eu acho que os portugueses viveram uma situação complicada porque eu quando escrevi experimentei um bocadinho daquilo que foi a vida dos portugueses, escrevendo. De certa forma, eu acho que eles viveram ali uns momentos complicados, mesmo de sofrimento, em que se sentiram abandonados pelo Estado português. Depois, é histórico: quando chegaram a Portugal não havia emprego, não havia alojamentos, foi também por isso que eles foram para França. Nessa parte, eu acho que simplesmente fui fiel àquilo que disse o meu pai e, de certa forma, houve uma compaixão também com os portugueses que viveram uma situação bastante complicada e se sentiram realmente abandonados." "É justamente outro tema que aborda sem tabus: a discriminação dos retornados. Fala de cerca de 500.000 pessoas das antigas colónias luso-africanas que regressam a Portugal e lemos 'Percebemos logo que não éramos bem-vindos no nosso país'. Relatar isto é corrigir uma injustiça?" "Sim. É interessante porque falei da aventura, da boa disposição do meu pai a contar as histórias, mas quando leio um romance também gosto de aprender alguma coisa.  Acho que neste romance há muita História - eu tentei reproduzir o contexto da época - mas também é um livro em que tentei pôr emoções e sente-se essa fase complicada da derrocada portuguesa depois da Revolução dos Cravos e depois da independência da África Lusófona. A ideia foi recriar essa situação que os portugueses viveram, muitos portugueses, não foi só o meu pai. Através do meu pai é o exemplo de muitos portugueses que estiveram durante anos em Angola, por exemplo, e chegam a Portugal e Portugal não tem condições para receber os filhos da nação. E foram empurrados para fora. Acho que isso é uma realidade e foi uma opção narrativa de escrever o livro através do olhar do meu pai, reproduzir aquilo que é a opinião do meu pai e a vivência do meu pai naquela altura." "E também humanizar um tema que finalmente não é assim tão falado?" "Exactamente. É um livro que fala de uma altura de Portugal e de um português e através desse português falo de muitos portugueses, mas espero também falar de muita gente hoje em dia que foge do seu país para chegar à França ou outros países e dar um rosto a essa gente, uma identidade, contando esse percurso antes de chegar a França. O percurso que foi de milhares de portugueses, neste caso. Não foi um percurso fácil, são heróis quase normais. Foi numa conversa com a minha editora: o meu pai é quase uma figura banal porque, naquela altura, todos os portugueses viveram grandes aventuras porque foram empurrados pela História para fora do país. O meu pai foi para Angola, outros vieram a salto até França ou até à Alemanha. Algumas personagens no livro vivem essa parte. Tentei escrever um livro mais universal para não ser só um livro para portugueses. Não é um livro só para portugueses." "Mas é um livro em homenagem ao seu pai?" "Sim, mas como dizia o Miguel Torga, o universal é o local sem os muros. Qualquer coisa assim. Eu tentei falar do meu pai, de Portugal, mas sem os muros. Escrevi em francês, gostava que o público francês também lesse o livro e pudesse ver o que foi a vida dos portugueses antes de chegarem, mas também tentei humanizar o meu pai o máximo possível e esse percurso dos portugueses também." "Carlos vai, então, para França com a esposa e aí vemos outros relatos que os emigrantes portugueses reconhecem, sem dúvida. Podemos ler, a dada altura, que 'o tempo dos bairros de lata acabou em 1972, mesmo se muitos olham os portugueses como animais selvagens, vindos de fora, pobres estrangeiros sem valor, portugueses da ponta da Europa, a verdade é que deixámos a nossa condição de ratos'. O narrador descreve, também, como alugou a primeira casa insalubre, arrendada pelo próprio patrão que, como tantos outros patrões, se aproveitava da miséria dos portugueses. Entre outros trabalhos, ele acaba por  'conduzir o exército dos invisíveis sem papéis, de escritório em escritório, para limpar o Val-de-Marne das suas imundícies'. Este livro é, também, um ajuste de contas?" "A minha editora acha que eu fui simpático demais nessa parte final! Mas o meu pai tem uma boa imagem da França. Eu acho que não há mais patriótico do que o meu pai em relação à França. Eu acho que, às vezes, os franceses precisavam de ir para fora viver outras experiências para saberem a sorte que têm de estar em França. O meu pai sempre teve essa mensagem junto dos filhos que é a de que estar em França é uma sorte. Ele tem uma imagem positiva. Mesmo assim, quando chegou aqui ele não tinha dinheiro, não sabia falar a língua francesa e teve que se adaptar. Acho que essa é uma das grandes qualidades reconhecidas ao povo português que chegou a França, os próprios franceses reconhecem que os portugueses têm essa capacidade de se adaptarem, essa coragem de agarrarem qualquer emprego, qualquer trabalho." "Isso também deu muito jeito aos franceses…" "Claro, mas eu tentei, mesmo assim, mostrar que os portugueses foram aqueles heróis quase normais, comuns, porque chegaram aqui, as condições não eram fáceis. Eu conto no livro: o primeiro casaco que a minha mãe comprou foi a crédito; o meu pai teve que comprar uma bicicleta em segunda mão. Esta é a história de muitos portugueses. Não foram só os meus pais. Para mim, como eu dizia há bocadinho, que nasci em 1979 no conforto, são vidas paralelas, não tem nada a ver com a minha vivência." "Também retrata a coragem das mulheres que, com duas crianças nos braços, não temem em 'dar o salto' e 'sair pela porta pequena e clandestinamente' de Portugal para França. Mas, ao mesmo tempo, desmonta - ou não? - o machismo do 'Rodrigo de França' a emigrar primeiro e, só depois de sair do bairro de lata de Champigny-sur-Marne, é que diz à esposa para se juntar a ele porque já precisava de alguém para se ocupar da casa e da cozinha…" "Sim. Peço desculpa ao meu tio! Troquei o nome de propósito. Mas é que os portugueses, na altura, primeiro vinha o homem arranjar trabalho, um emprego e uma casa. Depois, só depois, é que vinha o resto da família. A sociedade naquela altura - ainda é um bocado, mas as coisas estão a mudar - era machista e era a lógica do casal do Rodrigo." "O seu pai e a sua mãe acompanharam a escrita do livro, já percebemos, mas já o leram? Expor assim a família, reabre ou cura feridas?" "O meu pai não tem qualquer problema com isso. Eu quando fui escrevendo o livro, já conhecia essas histórias, mas quando uma pessoa quer escrever, depois precisa de conteúdo e coisas mais factuais. Eu passei muitas horas, durante esses três anos de escrita, com o meu pai, em Portugal ou aqui - eles moram em Boissy Saint-Léger - à mesa, eu a fazer perguntas, ele a responder, eu a tomar apontamentos... Ele não tem qualquer problema com isso, em expor a vida, se calhar há aqui episódios que eu próprio não assumiria e que ele assume. Ele já leu o livro e o comentário dele foi: 'Tive mesmo uma infância de merda!'. Ele vive o livro como se revivesse o passado, não com o olhar crítico-literário." "Ficou emocionado?" "Sim, acho que sim. Dediquei o livro ao meu pai e só essa parte já foi bonita porque ele ficou emocionado. É uma homenagem ao meu pai e àquelas histórias que eu ouvi quando era pequeno, que me comoviam e que eu achava mesmo que eram uma aventura de loucos." "Para terminar, fale-nos um pouco de si. Este é o segundo livro publicado em França. Em 2018, publicou 'Les Passages Obligés'. Que ambições e que espaço é que a escrita tem para si?" "Eu sou professor perto de Rouen, professor de português, e sempre escrevi durante muitos anos para a minha gaveta. Escrevia e depois arrumava na gaveta ou não terminava os meus projectos. Chegou uma altura em que pensei que tinha de terminar os meus projectos e assumir – porque publicar é quase o contrário de escrever, publicar é expor o nosso trabalho. Havia duas ou três histórias que eu gostava de escrever e de publicar. Esta foi uma delas. São histórias que vêm de longe. Já passei os 40 anos e estou a assumir aquilo que escrevo, pela segunda vez, porque já escrevi um livro em 2018 chamado 'Les Passages Obligés' em que conto o meu dia-a-dia de professor com os meus alunos também baseado em factos reais."
    2/28/2023
    20:53
  • TotalEnergies pede relatório sobre segurança em Cabo Delgado
    A petrolífera TotalEnergies encarregou Jean Christophe Rufin, escritor e antigo diplomata francês, de avaliar a situação de segurança em Cabo Delgado, no norte de Moçambique. O especialista em direitos humanos deverá produzir, até final do mês, um relatório para decidir se há ou não condições para se retomar a construção da fábrica de gás liquefeito, na bacia do Rovuma. Fátima Mimbire, activista social com análises no sector da indústria extractiva, aponta alguns riscos na tomada desta decisão, no entanto admite que se trata de um procedimento normal da petrolífera francesa.  RFI: O que é que motivou a empresa TotalEnergies a recorrer a um especialista independente para fazer avaliação da segurança em Cabo Delgado? Fátima Mimbire: É um procedimento correcto da empresa. É recomendável que se faça uma análise desta natureza, enquadrando-se naquilo que se chama "Conflict Impact Assessment". Este procedimento vai verificar em que medida é que o investimento pode afectar o conflito. Ou seja, aumentando a sua escala ou criando situações de insegurança alargada para as comunidades à volta do projecto. Todavia, creio que também se pretende verificar se, em caso de retorno, por exemplo, outras acções podem ser implementadas para assegurar e garantir as situações de segurança. Não só para o projecto, mas também para as comunidades. A TotalEnergies não está a desresponsabilizar-se das questões de segurança? Existe certamente o risco de a TotalEnergies, não tendo mais interesse em investir-por várias razões que a própria Total possa saber- pretenda legitimar a decisão de não retornar a Moçambique. Nesse caso, ao contratar uma consultoria independente, para fazer este diagnóstico, que poderá concluir que não há condições objectivas para o projecto retomar, a Total sai sem remorsos e sem consequências. A sociedade civil moçambicana não devia integrar o painel que vai avaliar se há ou não condições de segurança para este projecto avançar? Na verdade, a sociedade civil já começou a movimentar-se nesse sentido. A coligação cívica indústria extractiva, sobre a liderança do Centro Terra Viva, está a organizar uma mesa redonda com a TotalEnergies para discutir estas questões. Uma das grandes demandas da sociedade civil é assegurar a presença neste painel ou que possa vir a ter acesso à informação do relatório para a respectiva discussão e validação. A sociedade civil está a posicionar-se para poder acompanhar de perto este processo. No entanto, desde 2017, a sociedade civil não tem conseguido garantir a própria segurança para se deslocar ao terreno de conflito e fazer a respectiva monitorização. Isto era o que estávamos a fazer desde 2013/2014 quando iniciou toda a discussão à volta dos reassentamentos em Cabo Delgado. Nós esperamos ser integrados nesta equipa técnica, que vai fazer a análise da situação no terreno, de forma a emitir o nosso parecer independente sobre a situação. A senhora afirmou que, ao recorrer a um especialista independente, a petrolífera poderá credibilizar a decisão de “um cinturão de segurança” na área de implementação do projecto. Qual será o impacto desta decisão? É um risco, embora a TotalEnergies tenha declarado que não tem intenções de retomar e criar esse “cinturão” ou transforma-se numa ilha em Cabo Delgado, enquanto o resto da província está em conflito. Eu quero acreditar na boa fé da TotalEnergies, embora muitas multinacionais já nos deram muitos exemplos do contrário. Se a situação do “cinturão de segurança” se concretizar só para o projecto, isto significa que nós corremos um risco, muito grande, do país ver cada vez mais diminuídos os benefícios da indústria extractiva. Neste caso, as condições de fiscalização seriam sempre dentro daquilo que é o programa e o plano das empresas. Ou seja, elas seriam um território, dentro do território moçambicano, que se auto-governa. Isto seria preocupante e muito grave, criando uma situação de vulnerabilidade para as comunidades que vivem nas imediações. É preciso lembrar que em Moçambique os recursos pertencem ao Estado que é composto pelos cidadãos e pelas instituições. Não se pode pensar na exploração dos recursos, excluindo as comunidades. Os próprios padrões internacionais, propostos pelas Nações Unidos, sugerem que as condições de segurança não podem ser exclusivas para o projecto. Estas devem incluir as comunidades vizinhas.   Na minha prespectiva, a TotalEnergies está numa encruzilhada: ou ela se afirma como uma empresa anti-diretitos humanos, ignorando toda a situação à sua volta. Ou vai assegurar que o “cinturão de segurança” se estende por toda a província e eles têm condições para isso. A TotalEnergies que acaba de apresentar lucros recordes, cerca de 19 mil milhões de euros. As conclusões deste relatório poderão dar respaldo à empresa para negociar mais benefícios com o Governo moçambicano? Sem dúvida. É preciso lembrar que este conflito veio enfraquecer a posição de Moçambique. A discussão da instalação da base logística é um assunto que ainda não foi encerrado. É de conhecimento público que a TotalEnergies quer instalar a base logística num território francês, contudo os moçambicanos, eu concordo, consideram que esta base deve ser instalada no nosso país. Se a Total mantiver a sua postura, numa altura em que Moçambique se encontra numa posição mais frágil, por questões financeiras, obviamente que a Total vai usar esta situação como instrumento de “barganha” no relatório. Isto já aconteceu no passado, na altura estava-se a negociar um regime especial que acabou por ser alcançado através de um projecto lei, em 2014. Neste momento há condições para se avançar com este projecto? Na verdade, os projectos da bacia do Rovuma foram sempre apresentados como um grande trunfo do Presidente Filipe Nyusi. O chefe de Estado e o Governo estavam na expectativa de terem estes projectos a funcionar, pelo menos o projecto do “Golfinho Atum”. No entanto, em 2017 o conflito em Cabo Delgado veio adiar estes projectos. Acredito que o Presidente Nyusi e o governo mantêm as expectativas de que o mandato termine já com as obras deste projectos bastante avançadas, quase numa fase final. Existe muita pressão para que estes projectos avancem. Eu tenho a certeza absoluta de que o governo estará disponível para dar tudo para manter uma imagem positiva, na altura em que o mandato terminar, sublinhando que houve um conflito no país, mas os projectos não pararam. Há um perigo do chefe de Estado fechar os olhos à segurança da população? Existem ainda muitos riscos que não podem ser ignorados. A situação ainda não está totalmente debelada. Eu quero acreditar que as nossas instituições não vão permitir que a Total opere sem garantir a segurança da população vizinha. Mais vale a pena esperarmos, com serenidade, pelo momento apropriado. Há muito triunfalismo à volta da situação do conflito em Cabo Delgado, mas o dia a dia mostra-nos uma outra realidade. Existe a vontade de alcançar bons resultados, porém ainda há muitos desafios. Parece-me que ninguém está a querer reflectir para perceber de onde vêm esses desafios. Onde estamos a falhar para não conseguir estancar este conflito de uma vez por todas.
    2/8/2023
    8:55
  • Plataforma digital empodera mulheres de Cabo Delgado
    Onde estão as mulheres na construção do futuro de Cabo Delgado? Omnipresentes mas com uma voz ainda pouco audível. Foi para lhes dar voz e traçar caminhos para a paz que as investigadoras moçambicanas Tassiana Tomé e Catarina Trindade criaram a plataforma digital Muthiana.com que humaniza as vítimas do conflito e permite a articulação entre investigadores, organizações, activistas e público em geral. Foi a partir da pesquisa intitulada “Passado, Presente e Futuro na Voz das Mulheres e Raparigas Afectadas pelo Conflito em Cabo Delgado: Uma Análise Feminista” que as investigadoras moçambicanas Tassiana Tomé e Catarina Trindade criaram a plataforma digital Muthiana.com. Tassiana Tomé é a nossa convidada e fala-nos sobre os objectivos, as histórias e as recomendações da plataforma. RFI: O que é a plataforma digital Muthiana.com? Tassiana Tomé, Co-fundadora da Muthiana.com: A plataforma digital Muthiana.com é uma plataforma virada para a questão da paz e das mulheres em Cabo Delgado e foi o resultado de uma pesquisa que foi feita sobre o impacto do conflito na província de Cabo Delgado, em particular nas mulheres e nas meninas. Desta pesquisa, sentimos a necessidade não só de divulgar o seu conteúdo - que também tem uma componente de histórias destas mulheres e o mapa das deslocações que estas mulheres fizeram em função do conflito - mas sentimos também necessidade de ampliar para que fosse um espaço vivo para repositório de outros documentos e estudos que estão a ser feitos. Para ir sendo alimentado com as vozes e histórias de mulheres e meninas que vão enfrentando o conflito e também para abordar toda a questão pós-conflito, todo o processo de recuperação e de busca pela paz. Há as histórias, há o mapa das deslocações… Mas depois, concretamente, como é que esta plataforma pode ajudar ao empoderamento destas meninas e destas mulheres que sofrem na pele o conflito em Cabo Delgado? Bem, há duas formas que a plataforma tenta fazer isso. Uma delas é partilhando um directório de várias organizações que estão a trabalhar para apoiar estas mulheres. As organizações que foram seleccionadas são organizações também elas lideradas, na sua maioria, por mulheres, mas não só. Então, este directório conecta quem tem interesse em conhecer mais sobre o conflito e saber como pode apoiar estas entidades que já estão a trabalhar em Cabo Delgado e nós favorecemos também organizações nacionais e organizações comunitárias de base. Por outro lado, a plataforma também traz uma Carta em Defesa dos Direitos destas mulheres que é uma carta que pode ser assinada e cujo objectivo é ser submetida ao ministério do Interior e ao ministério de Género, Criança e Acção Social. É uma carta que traz as diferentes demandas destas mulheres, a partir das suas vozes, e também procura enfatizar a questão dos direitos das pessoas deslocadas pelo conflito. O conflito em Cabo Delgado dura, pelo menos, desde 2017. O mundo pouco fala nos cerca de um milhão de deslocados de Cabo Delgado. Como é que este projecto pode ajudar a despertar as consciências, não apenas em Moçambique, mas além fronteiras? A plataforma também tem o propósito de elucidar o público em geral sobre toda a questão do conflito, trazendo outros estudos, partilhando leis e políticas que, de alguma forma, protegem e defendem as pessoas em situação de deslocação forçada pelo conflito. Ao mesmo tempo, existe também a intenção de dar voz àquilo que inicialmente eram números e estatísticas. A ideia é humanizar estes números e trazer as vozes, as histórias, e perceber os quotidianos destas mulheres e meninas, as suas lutas e também as suas resiliências neste processo de reconstrução das suas vidas em situação ainda de insegurança. Acima de tudo é isto que a plataforma pretende fazer: é realmente transformar números em histórias de vida e dá-las a conhecer ao público em geral. A pesquisa chama-se “Passado, Presente e Futuro na Voz das Mulheres e Raparigas Afectadas pelo Conflito em Cabo Delgado: Uma Análise Feminista”. Quais são as principais recomendações que vocês fazem? As recomendações são viradas para o governo, para as agências internacionais e de resposta humanitária e para outras organizações que estão a trabalhar no processo de reconstrução e desenvolvimento. São recomendações que partem das perspectivas destas mulheres sobre as causas do conflito e também sobre os caminhos para a paz. Uma das primeiras recomendações que as mulheres levantaram, e que foi unânime, é a necessidade de um caminho de diálogo para se chegar à paz porque, até ao momento, nós temos uma resposta militar ao conflito, mas não há uma estratégia de pacificação. A outra grande recomendação é que não haja nenhuma estratégia ou programa de desenvolvimento e de reconstrução da província de Cabo Delgado pós-conflito sem a voz e a presença destas mulheres que não têm ocupado os espaços de tomada de decisão. A nível do país, nós temos um plano nacional de reconstrução da província de Cabo Delgado. Temos, também, um plano nacional de paz, mulher e segurança que terminou no ano passado e que agora vai ser renovado. É necessário que todos estes planos e programas que trazem acções muito concretas, reflictam as reais necessidades destas mulheres. Outra recomendação é que toda esta deslocação forçada nas mulheres também afectou as comunidades hospedeiras, isto é, as comunidades que estavam a receber toda esta população. Nós estamos a falar de uma província de três milhões que teve quase um milhão de pessoas deslocadas. Isto significa que também estas comunidades devem ser assistidas porque há uma série de novos conflitos e novas tensões sociais que também estão a surgir em função de toda esta pressão demográfica e de toda esta deslocação forçada, desde a disputa por recursos naturais, a disputa por espaço de terra, a própria incapacidade dos serviços sociais básicos de saúde e de educação nos distritos que estão a ser os principais alvos de chegada e de acomodação destas pessoas de oferecerem ou de responderem a um número que cresceu exponencialmente. A outra grande recomendação é que ainda há muita precariedade nos centros de acolhimento e a nível da própria gestão destes centros de acolhimento e das aldeias onde estão estas comunidades e as mulheres e as meninas com toda a vulnerabilidade que enfrentam, desde exploração sexual e outras formas de violência baseada no género. Estamos a falar de mulheres e de meninas vítimas de deslocações forçadas e ainda mais vulneráveis por serem do sexo feminino. Vocês constataram no vosso estudo ter havido um aumento de violências sobre as mulheres?  Sim. É sempre um assunto bastante difícil e tabu. Curiosamente, muito mais facilmente elas falavam da violência brutal resultante dos ataques terroristas do que propriamente de outras formas de violência que estivessem a enfrentar. Foram relatados casos de situação de discriminação, situações de exploração sexual em troca de bens e em troca de donativos que deviam chegar a estas mulheres. Foram também relatadas situações de um aumento da questão da prostituição infantil. Há uma série de vulnerabilidades a diferentes formas de violência que foram exacerbadas. Vocês também falam em “estratégias quotidianas de resistência e entreajuda”. Ou seja, no seio da comunidade de mulheres acabou por haver essa resistência e entreajuda? Definitivamente. Eu acho que este é um ponto muito importante do trabalho: é que não coloca estas mulheres como apenas vítimas de uma situação de conflito altamente traumática, violenta e de grande perda material e humana, mas também as coloca e as observa como grandes agentes de transformação neste processo porque efectivamente estas mulheres são aquelas que estão a liderar e estão à frente da reconstituição da vida comunitária como um todo. Elas são as principais responsáveis pela gestão do dia-a-dia, pela provisão de alimento nas comunidades, pela procura de espaço para cultivo, pela garantia de cuidado da população idosa, da população infantil, das crianças. Então, elas carregam múltiplos papéis e assumem também papéis de liderança a nível da comunidade e diferentes formas de entreajuda. Por exemplo, formas de poupança comunitária são um dos mecanismos que usam, mas também através de outras formas de cura, de coesão social em torno de cerimónias, em torno da dança, de momentos de convívio para alívio de trauma. Contudo, também é importante destacar que outra grande recomendação é ligada precisamente ao fraco investimento em relação à questão de apoio psicossocial para alívio de trauma destas mulheres porque elas também tiveram um acréscimo de responsabilidades em função da perda dos seus pais, dos seus filhos, dos seus maridos. Tudo isso também gerou uma sobrecarga sobre elas. Ao mesmo tempo que elas vão assumindo novos papéis que lhes concedem um novo poder, elas estão muito sobrecarregadas com todas estas responsabilidades. Isso tem como efeito, no dia-a-dia, de estarem mais vulneráveis a todos estes novos conflitos que vão surgindo porque muitos destes novos conflitos, sobretudo entre as comunidades deslocadas e as comunidades hospedeiras, recaem sobre a questão do acesso aos recursos naturais. Quem está à frente deste acesso aos recursos naturais são as mulheres porque são as mulheres que vão buscar lenha, são as mulheres que cultivam, são as mulheres que vão buscar água. Então, no dia-a-dia, são elas que enfrentam estas disputas por água, por terra, pelo alimento. São elas que levam as crianças para o centro de saúde e sofrem a discriminação por serem pessoas deslocadas. Há todo um estigma também associado ao facto de elas serem mulheres deslocadas e existe a percepção de que foram os maridos delas que trouxeram a guerra, muitas vezes há essa percepção errónea. Então, dentro de todo esse cenário, elas têm estabelecido formas de resistir, de resiliência. Também há coesão, solidariedade? Apesar dessas novas tensões sociais, também é preciso destacar todo um movimento de solidariedade porque muitas pessoas, a grande maioria destas pessoas, foi assistida - muito mais do que por organizações ou agências humanitárias - foi assistida pelas próprias comunidades que foram recebendo nas suas casas estas pessoas. Uma família que antes tinha 10 pessoas passou a abrigar 60 pessoas, passou a dividir a sua alimentação e o que tinha de alimento com outras famílias conhecidas e desconhecidas que iam chegando. Então, houve um movimento em massa de solidariedade. Muitos desses movimentos eram também liderados por mulheres que também iam recebendo as pessoas que estavam em fuga e em busca de segurança.
    2/1/2023
    12:38
  • Lucibela faz homenagem "a todas as mulheres do Mundo" no seu novo álbum
    A força das mulheres inspirou o novo álbum, saído em 2022, de Lucibela, com a cantora cabo-verdiana a decidir chamar-lhe Amdjer, ou mulher em crioulo. Para esta intérprete, apontada muitas vezes como uma das herdeiras de Cesária Évora, esta comparação traz responsabilidade e também felicidade. "Eu decidi dedicar o álbum às mulheres do Mundo todo, porque conta histórias das mulheres cabo-verdianas, mas são vivências que acontecem no Mundo todo, histórias tristes, alegres ou engraçadas. A minha mãe é a principal mulher e exemplo, porque ele criou-nos, somos cinco, sozinha. Sempre fez tudo sozinha e todas as mulheres cabo-verdianas porque elas são guerreiras. A maioria criam os filhos sozinhas, cuidam da casa, têm de colocar comida na mesa, então acho que são uma força", explicou Lucibela aos microfones da RFI. Após a sua estreia em 2018, com o álbum "Laço Umbilical", Lucibela veio esta semana a França para apresentar "Amdjer" no concerto de abertura do festival Au Fil des Voix, que decorreu na sala La Cigale, em Paris. "É a segunda vez que venho a este festival e é muito especial. Foi o primeiro concerto que eu fiz após o lançamento do primeiro disco em Fevereiro de 2018 e vir para o festival de novo, com o novo disco, é muito importante, traz-me boas recordações. As coisas andaram muito bem em 2018 e 2019 e espero que esta edição também me traga mais sorte para retomar o nosso caminho", declarou a cantora. Este seu novo álbum conta com 12 faixas inéditas, entre elas, um bolero em parceria com o músico cubano Emílio Moret e a gravação de uma música tradicional cabo-verdiana, "Adeus Mamã". Lucibela fez já uma tourné nos Estados Unidos, onde mostrou este trabalho, mas que levou também o público a descobrir toda a sua discografia, como explicou em entrevista à RFI. Quanto às comparações com Cesária Évora, com muitos especialistas a apontarem-na como herdeira da diva cabo-verdiana, Lucibela encara isso como uma responsabilidade, mas também um factor de satisfação. "É uma grande responsabilidade, porque a Cesária é a nossa rainha, é a nossa diva, e sempre vai ser. Mesmo que apareça outra pessoa que tenha tanto sucesso como ela, mas ela vai ser sempre a marca que nos abriu as portas para o Mundo. Sinto um bocado de responsabilidade para fazer as coisas como deve ser e sinto-me feliz. Se as pessoas vêm que posso ser uma possível Cesária, isso quer dizer que eles gostam da minha voz e da maneira como eu canto", concluiu Lucibela.
    1/26/2023
    11:01

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