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  • Radicalização de protestos, a nova estratégia da juventude francesa contra a reforma da Previdência
    Desde que o governo francês resolveu impor a reforma da Previdência por decreto, na última semana, uma nova forma de contestação surgiu. Os jovens, que até então eram minoria nas manifestações, aderiram ao movimento, mas com uma nova estratégia: a radicalização dos atos. Daniella Franco, da RFI O anúncio da primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, na última quinta-feira (16), do recurso ao controverso artigo 49.3 para aprovação da reforma da Previdência sem o voto dos parlamentares detonou uma forte revolta dos jovens do país. Na mesma noite, dezenas de pessoas se reuniram de forma espontânea na região da praça da Concórdia, perto da Assembleiade deputados, e enfrentaram um imenso dispositivo policial mobilizado pelo governo. A estratégia de dispersão dos manifestantes, através das repressivas brigadas motorizadas, foi um tiro no pé das forças de segurança. Ao invés de retornarem para suas casas, os jovens se espalharam pelas ruas da capital, protagonizando cenas de vandalismo e mais confrontos com as forças de segurança. O movimento se disseminou a várias outras cidades francesas, como Bordeaux, Nantes e Rennes. De forma não intencional, surgiu uma nova estratégia de protestos, classificados de “selvagens” pelas autoridades, que vêm se repetindo há uma semana. Por meio das redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas, militantes determinam um ponto de encontro diferente todas as noites para não serem facilmente identificados pela polícia. Pelas ruas, vestidos de preto, eles caminham pelo meio das ruas cantando músicas contra as forças de ordem. O acrônimo “Acab”, do inglês “All Cops Are Bastards” (todos os policiais são desgraçados) é frequentemente entoado. Ao perceberem que são observados ou filmados por cidadãos nas janelas, eles respondem: “não fiquem nos olhando, venham nos ajudar”. Alguns deles montam barricadas, outros derrubam e queimam lixeiras. Quando as brigadas policiais se aproximam, os jovens se dividem em pequenos grupos, se infiltram por ruas menores, e voltam a se reunir no próximo ponto de encontro indicado para dar sequência aos atos que podem entrar madrugada adentro. Apelidado pela imprensa francesa como “o jogo de gato e rato”, não há uma liderança específica nesse novo formato de protesto. Boa parte dos participantes é universitária, com tendência política anarquista ou de extrema esquerda, na faixa dos 20 anos.     Exasperação diante da imposição da reforma Para o sociólogo francês Sébastian Roché, especialista em questões policiais e de segurança na França, o recurso ao controverso artigo 49.3 da Constituição do país para aprovar a reforma da Previdência foi o detonador do fenômeno. “Quando o presidente francês decidiu que os deputados não votariam o projeto de lei, o processo democrático foi interrompido, o que provocou o estopim da mobilização”, aponta. Em seguida, a rejeição de duas moções de censura contra o governo pela Assembleia de deputados, na terça-feira (21), também resultou em uma longa noite de manifestações “selvagens”. Para acirrar ainda mais os ânimos, em uma entrevista concedida pelo presidente francês na quarta-feira (22) a dois canais de TV, a previsão de que a reforma entre em vigor até o final do ano, foi anunciada. O tom arrogante e a inflexibilidade expressada por Macron também resultaram em uma mobilização recorde nos protestos convocados pelas centrais sindicais nesta quinta-feira (23). No entanto, apesar de a indignação ser coletiva, segundo Roché, o novo formato de protesto criou uma forma de contestação paralela ao movimento institucionalizado nas ruas. A nova estratégia é desafiadora às autoridades, que dão mostras de não saber como reagir. Com atos inegavelmente politizados e abertamente radicais, os jovens vêm obtendo como resposta uma crescente repressão policial - uma escolha “muito agressiva” por parte do governo, avalia Roché. “A manutenção da ordem é o setor policial mais militarizado e mais estruturado na França. A secretaria de Segurança Pública escolheu a estratégia de dispersão desses protestos através das brigadas motorizadas, que são as mais violentas da França, além das detenções. Mas, na França, embora não tenhamos o direito de organizar atos não autorizados, temos o direito de participar deles”, pondera. Desde o início dos atos “selvagens”, há uma semana, cerca de mil pessoas foram presas. Denunciadas por ONGs como arbitrárias, as violências policiais e detenções atingem também jornalistas que cobrem as manifestações, militantes pacíficos e cidadãos não implicados nos atos, como pedestres que estavam na rua no momento dos confrontos. “O uso indiscriminado da força é uma característica das forças de segurança nacional. Qualquer um pode ser alvo de violência policial, seja uma pessoa tomando café na calçada de um bar ou alguém saindo de uma loja, alunos saindo de uma escola, todos podem ser levados para o camburão”, diz. Preocupação com as violências Nesta sexta-feira (24), novas convocações para os atos “selvagens” circulavam nas redes sociais. Ao mesmo tempo, o Ministério do Interior começa a dar mostras de um cansaço por parte das brigadas que enfrentam um ódio cada vez maior dos militantes. Na quinta-feira, um policial desmaiou ao ser atingido por uma pedra na cabeça durante o confronto com manifestantes. No total, 441 membros das forças de segurança foram feridos no período de uma semana. Membros do governo começam a se manifestar sobre a situação. “É preciso que todo mundo peça calma”, disse a presidente da Assembleia de deputados, Yaël Braun-Pivet. O ex-primeiro-ministro socialista Bernard Cazeneuve divulgou um comunicado fazendo um apelo pela “desescalada das violências” e sugerindo uma pausa na reforma. O mesmo tom é empregado por Laurent Berger, secretário-geral da central sindical Confederação Francesa Democrática do Trabalho, que pede o congelamento do projeto durante seis meses para que “as coisas se acalmem”. Já a comissária dos Direitos Humanos do Conselho da Europa, Dunja Mijatovic, se disse preocupada com “o uso excessivo da força” contra os manifestantes na França, pedindo para o país respeitar o direito de protestar. “Cabe às autoridades permitir o exercício das liberdades, protegendo os manifestantes pacíficos e jornalistas que cobrem esses atos das violências policiais”, indicou. Macron ainda não comentou os apelos, mas afirmou nesta sexta-feira que está disposto a dialogar com os líderes sindicais para conversar sobre questões relacionadas ao trabalho, mas sem tocar na questão da reforma da Previdência. “Indiquei nossa disponibilidade para avançar sobre assuntos como desgaste profissional, fim de carreira, reorientaçõoes, evolução de carreiras, condições de trabalho, remunerações em alguns setores”, disse. No entanto, o presidente expressou novamente sua obstinação em modificar o sistema de aposentadorias. “A reforma da Previdência está sendo analisada pelo Conselho Constitucional e é evidente que esperaremos sua decisão”, reiterou. Essa, que é a mais alta jurisdição administrativa da França, estuda atualmente a constitucionalidade do contestado texto. Deputados da coalizão de esquerda Nupes na Assembleia e do partido de extrema direita Reunião Nacional, bem como senadores de esquerda, também registraram recursos junto ao Conselho Constitucional contra a reforma. A decisão é esperada para até 21 de abril.
    3/24/2023
    15:44
  • Adoção forçada de reforma da Previdência cria incerteza sobre futuro de Macron
    A aprovação da reforma da Previdência por meio de um artigo constitucional, sem votação no plenário da Assembleia de Deputados, abriu uma crise política e social na França. A oposição apresentou nesta sexta-feira (17) duas moções de censura contra o governo da primeira-ministra Élisabeth Borne. A votação dos textos está prevista para a próxima segunda-feira (20). A França tem um sistema político diferente dos demais sistemas parlamentaristas na Europa. Existe um Parlamento eleito pela população, com Assembleia de Deputados e Senado, um primeiro-ministro nomeado pelo presidente, geralmente representante do partido com mais deputados eleitos na Assembleia.  Porém, a Constituição de 1958 dá prerrogativas poderosas tanto ao presidente eleito quanto ao chefe de governo, quando o Executivo quer adotar uma legislação não consensual entre os deputados, ainda que ela tenha tido aprovação do Senado. O artigo 49 alínea 3 da Constituição francesa permite a adoção de leis sem a votação dos deputados. Foi exatamente o que aconteceu na quinta-feira (16), uma data que entrará para a história do país. Vendo que a aprovação da reforma, que eleva a idade mínima da aposentadoria de 62 para 64 anos, poderia ser rejeitada na Assembleia, Macron e a primeira-ministra Élisabeth Borne decidiram acionar o artigo 49.3.  Esse mesmo artigo constitucional, na alínea seguinte, dá aos deputados o direito de apresentar uma moção de censura, ou seja, a possibilidade de destituir o governo. Para isso, a moção deve ser aprovada por maioria simples na Assembleia.  Na tarde desta sexta-feira, um grupo de deputados independentes apresentou uma moção de censura suprapartidária contra o governo, também assinada pela coligação de esquerda Nupes. O texto será submetido ao plenário da Assembleia na próxima segunda-feira (20), com o objetivo de destituir o gabinete da primeira-ministra Élisabeth Borne.  O partido de extrema direita de Marine Le Pen (Reunião Nacional – RN) encaminhou uma segunda moção de censura, mas é a proposta dos independentes que tem mais chances de reunir o apoio de parlamentares de todas as legendas de oposição, inclusive do partido de direita Os Republicanos (LR), que rachou e tornou a votação da reforma no plenário da Assembleia incerta para o governo.   Para a primeira-ministra perder seu mandato, são necessários os votos de 287 deputados entre os 573 que compõem atualmente a Assembleia. Assim como a votação da reforma da Previdência dependia dos deputados do partido de direita LR, a continuidade ou o fim do governo de Élisabeth Borne está nas mãos deste partido, que está dividido.  Por enquanto, parece remota a formação dessa maioria de 287 votos para derrubar o governo. Mas este cenário pode evoluir nas próximas horas.   Um aspecto importante para destacar é que o Parlamento francês não tem poder para retirar o presidente Emmanuel Macron da presidência. Só ele pode decidir sobre uma eventual renúncia, o que por enquanto não está em perspectiva.  Afronta à democracia Desde a reeleição de Macron, em maio passado, se instalou um mal-estar entre o presidente e a população. Os franceses votaram novamente em Macron para evitar que a rival de extrema direita, Marine Le Pen, chegasse ao poder. Ao mesmo tempo, os eleitores colocaram uma oposição forte na Assembleia, com a expectativa de impor ao governo negociações a cada projeto de lei e a busca de compromissos políticos.  O problema é que Macron tem um perfil tecnocrata e age com certa arrogância. Ele se vê como um líder corajoso, reformista e não admite ser contestado, principalmente por protestos nas ruas. Para ampliar a tensão, o presidente já disse considerar o movimento sindical francês radical e atrasado. Na visão do líder centrista, vencer a nacionalista Marine Le Pen duas vezes lhe deu legitimidade para reformar o país. Mas não é assim que os franceses veem as coisas. Desde o lançamento do projeto de reforma previdenciária, em outubro passado, a primeira-ministra optou por negociar apenas com a bancada de 62 deputados da direita republicana, desprezando o diálogo com as lideranças sindicais, sempre com o aval de Macron. Os dois cometeram o erro político de apostar somente nos votos da direita, além de não terem percebido que depois do movimento dos coletes amarelos, os sindicatos franceses estavam em busca de uma oportunidade para reconquistar a confiança dos trabalhadores. O impopular projeto de reforma das aposentadorias sedimentou a reaproximação dos sindicatos, que se uniram contra o texto. O presidente Macron e a chefe do Executivo recorreram 11 vezes ao artigo constitucional 49.3 nos últimos meses. É um estilo de governança que fere os princípios democráticos e fortalece os extremos, de direita e esquerda. Custo político alto para benefício reduzido Em 2022, a Previdência francesa teve um superávit de 3,2 bilhões de euros, o equivalente a cerca de 0,1% do PIB francês. De acordo com projeções do Conselho de Orientação das Aposentadorias (COR), um organismo independente que faz projeções para as autoridades e economistas, o sistema será déficitário de 2023 a 2027, com um rombo estimado de 12,5 bilhões de euros. Macron usa esses números para defender a reforma. Ainda acena com o estouro da dívida pública, a maior da história do país, de 113% do PIB em 2023, cerca de 3 trilhões de euros, e a necessidade de investimentos do Estado em setores essenciais.  Inicialmente, a reforma deveria dar ao Estado 17,7 bilhões de euros, ou seja, um valor superior ao déficit esperado. Mas com as concessões feitas durante a tramitação do projeto, os ganhos da reforma caíram para 11,3 bilhões de euros.  Há meses economistas, sindicalistas, opositores e a imprensa apontam incoerências no projeto de lei e propõem alternativas para reequilibrar o sistema previdenciário. Em várias ocasiões, os franceses disseram que preferiam aumentar o recolhimento, ter maior desconto nos salários, a trabalhar por mais tempo. Mas aumentar a idade mínima se tornou um dogma para Macron, que pretendia demonstrar força para os vizinhos europeus. Assim, elevar a idade mínima para 64 anos se tornou a única opção nos planos do presidente, mas também a mais violenta para a população. Macron se colocou em uma situação difícil. Se a moção de censura não vingar na Assembleia na semana que vem, ele pode tentar uma reforma ministerial. A primeira-ministra Élisabeth Borne sai dessa sequência muito fragilizada. Mas mudar de chefe de governo sem mudar a forma de fazer política não vai levar o centrista muito longe. Com maioria relativa na Assembleia, muitos acreditam que o presidente inviabilizou a aprovação de novas reformas no Parlamento. Os próprios deputados macronistas estão muito descontentes. Eles defendiam a votação da reforma no plenário da Assembleia e têm a impressão de não serem ouvidos para nada. Eles estão sendo escoltados por policiais desde ontem, tamanha a tensão social no país.  No cenário mais radical, Macron pode dissolver a Assembleia e convocar novas eleições legislativas. Mas as pesquisas apontam para resultados perigosos. A extrema direita seria a mais beneficiada e poderia aumentar ainda mais sua bancada na Assembleia. Ninguém imagina Macron presidindo o país com um chefe de governo de extrema direita. Por isso, a crise política tende a durar vários meses. Uma nova greve nacional já foi convocada pela frente sindical para a próxima quinta-feira (23), assim como outras paralisações setoriais, de professores, nos transportes e refinarias de petróleo. A queda de braço será longa, com possibilidade de apresentação de recursos de inconstitucionalidade da reforma, entre outras manobras em estudo pela oposição.
    3/17/2023
    10:42
  • França anuncia medidas em prol das mulheres, mas não consegue acalmar revolta contra reforma da Previdência
    Coincidência ou instrumentalização política? O governo Macron anunciou uma série de novas medidas favoráveis às cidadãs francesas nesta semana quando se comemorou o Dia Internacional das Mulheres. Ao mesmo tempo, a polêmica reforma da Previdência esteve no centro dos protestos de 8 de março. “Mulheres, as grandes perdedoras da reforma”: a frase virou um dos lemas dos protestos contra a reforma da Previdência na França. O projeto de lei, que prevê o aumento da idade mínima para a aposentadoria de 62 para 64 anos, é acusado de ser particularmente injusto com as francesas. Elas terão que trabalhar mais tempo que os homens para cobrir licenças-maternidade ou para compensar momentos de suas carreiras em que tiveram que optar por empregos em meio período para cuidar dos filhos. Percebendo que a revolta das francesas aumentava, o governo juntou uma série de anúncios em benefício das mulheres. O principal deles foi revelado pelo próprio presidente Emmanuel Macron, na quarta-feira (8). Durante uma homenagem à advogada franco-tunisiana Gisèle Halimi, ícone feminista e grande defensora da igualdade de gêneros, o chefe de Estado anunciou um projeto de lei para a inscrição do direito ao aborto na Constituição francesa. A iniciativa era reivindicada há meses devido à preocupação das feministas em relação à revogação, no ano passado, do decreto Roe vs Wade, que permitia que mulheres abortassem nos Estados Unidos. Para as francesas, a constitucionalização da prática pode ajudar a proteger a lei. Ongs e associações feministas saudaram o anúncio do presidente. Em comunicado, a Fundação das Mulheres classificou a iniciativa como “um sinal forte para todas as mulheres do mundo”. Para a organização Osez le Féminisme (Ouse o Feminismo), essa conquista é “fruto de mobilizaçõoes feministas coletivas há meses, anos e gerações”. Já para a Federação Nacional dos Centros de Informação sobre os Direitos das Mulheres e Famílias, a constitucionalização do aborto é “um real avanço para os direitos das mulheres”. No mesmo dia, 8 de março, a Assembleia de Deputados da França aprovou, em primeira leitura, um projeto de lei que trata do aborto espontâneo. De autoria da deputada Sandrine Josso, do partido MoDem, que faz parte da maioria governamental no Parlamento, o texto prevê uma assistência maior do sistema de Saúde pública do país às mulheres que enfrentarem esse problema. O projeto ainda precisa ser aprovado pelo Senado antes de voltar à Assembleia, mas prevê, para as cidadãs que enfrentarem abortos espontâneos, atestados médicos sem desconto salarial e atendimento psicológico gratuito. Para Josso, as medidas são urgentes, já que, de acordo com a deputada, os abortos espontâneos, vividos por uma a cada dez mulheres na França, são experiências traumatizantes e “injustamente banalizadas”. Violências e precariedade menstrual Outros dois anúncios importantes foram feitos pela primeira-ministra Elisabeth Borne, nesta semana. O primeiro diz respeito à criação, nos tribunais da França, de grupos especializados em violências domésticas, para melhorar o tratamento de casos de agressões contra as mulheres. A medida é considerada urgente. Em média, a cada três dias, na França, uma mulher é assassinada pelo marido, namorado ou companheiro. Desde o início deste ano já são quase 30 feminicídios. Por isso, o governo também quer acelerar os procedimentos na polícia para mulheres que registram boletins de ocorrência assinalando que estão correndo risco de vida. A premiê francesa também anunciou que, nestes casos, uma “ordem de proteção imediata” poderá ser rapidamente emitida por um juiz, em um prazo de 24 horas. Outro anúncio feito pela primeira-ministra diz respeito à precariedade menstrual. A partir do ano que vem a seguridade social da França vai reembolsar a compra de proteções menstruais reutilizáveis a jovens de até 25 anos. Há alguns anos, o governo já havia apresentado um projeto de instalar distribuidores de absorventes em universidades para lutar contra a precariedade menstrual. Mas poucos locais foram equipados até hoje, embora uma a cada cinco francesas enfrente esse problema. Anúncios não convenceram as francesas Os anúncios não apaziguaram os ânimos das francesas que, no dia 8, saíram às ruas em 150 cidades do país. Neste ano, o foco dos protestos do Dia Internacional das Mulheres foi a reforma da Previdência. Em média, os salários das mulheres são 15% inferiores aos dos homens na França. Embora elas tenham um nível de formação maior e trabalhem por mais tempo, suas aposentadorias são 40% mais baixas que as dos franceses. Especialistas apontam que, se a reforma for aprovada, para obter a aposentadoria integral, as mulheres terão de trabalhar além dos 64 anos previstos no projeto de lei – 20% delas até os 67 anos. “Gravidez, faxina, trabalho: três vidas em uma em troca de uma aposentadoria miserável!”, gritaram as participantes da marcha do Dia Internacional das Mulheres em Paris. O 8 de março também foi marcado por uma polêmica envolvendo a homenagem de Macron à advogada Gisèle Halimi. Um dos filhos dela, Serge Halimi, se recusou a participar do evento promovido pelo governo no Palácio de Justiça de Paris por ocasião do Dia Internacional das Mulheres. Para ele, a homenagem ocorre em plena mobilização contra a reforma da Previdência, “extremamente injusta às mulheres”, afirmou. Ele lembrou que, se sua mãe fosse viva, estaria manifestando contra o projeto. Boicote também da parte da associação Choisir la cause des femmes (Escolher a causa das mulheres), criada por Gisèle Halimi em 1971. Para sua co-fundadora Violaine Lucas, a homenagem de Macron não passou de “uma instrumentalização política”.
    3/10/2023
    9:36
  • Teoria do “direito à preguiça” é usada pela esquerda na França para contestar reforma da Previdência
    A França é palco de um intenso debate sobre a reforma da Previdência que o presidente Emmanuel Macron quer aprovar a todo custo. Entre as muitas polêmicas em torno do projeto de lei, que está sendo discutido no Senado neste momento, veio à tona o argumento do “direito à preguiça”, que coloca a esquerda e o governo em pé de guerra. A ideia foi evocada pela deputada ecologista Sandrine Rousseau. Quando o projeto da reforma da Previdência começou a ser debatido pela Assembleia, em 6 de fevereiro, a parlamentar evocou o “direito à preguiça”, incitanto uma nova polêmica.  “Nós temos um corpo, um só, uma vida, uma só, nós temos um planeta, um só”, declarou ela no púlpito da Assembleia. “Sim ao direito à preguiça, sim ao direito à aposentadoria aos 60 anos!”, completou, antes de encerrar sua fala. Interrogada pela imprensa francesa após a midiática alocução, a deputada explicou que sua declaração não deveria ser levada ao pé da letra. Rousseau diz ter recorrido ao termo porque se sente “revoltada” com os pedidos frequentes do governo para que os trabalhadores façam mais esforços. “A aposentadoria não é um luxo, mas um direito do trabalhador”, ressaltou a deputada. A afirmação de Sandrine Rousseau é uma resposta também a membros do governo que, há semanas, tentam relacionar a oposição à reforma à imposição de uma “cultura da preguiça”. O ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, declarou em uma entrevista recente ao jornal Le Parisien que a esquerda defende “uma sociedade sem trabalho e sem esforço”. Ele também alegou que os deputados progressistas da Assembleia, que fazem parte da coalizão Nupes, impõem uma filosofia de “negação do trabalho”, enquanto a maioria governista milita em prol dos “valores do esforço, do mérito e da emancipação”. “Direito à preguiça”, uma ideia do século 19 Apesar de estar no centro da midiática batalha sobre a reforma da Previdência, o “direito à preguiça” é uma ideia que data do século 19, um conceito criado pelo economista e político francês Paul Lafargue. Em um manifesto social publicado em 1880, ele desenvolve a teoria ao tratar do valor do trabalho na vida das pessoas. Vanguardista, Lafargue denuncia a imposição por parte dos ricos da ideia de que as classes desfavorecidas têm de amar o trabalho, alienando e privando os pobres de se desenvolverem intelectualmente. Ao descrever as condições dos operários europeus no século 19, ele denuncia as jornadas de mais de 12 horas e observa que, quanto mais eles trabalham, mais empobrecem. Lafargue também aponta que, durante a Revolução Industrial, o progresso técnico resultou em uma produção maior de bens, levando as classes abastadas a consumir de forma exagerada. Mas o economista defende que, se a sociedade se organizar e parar de comprar excessivamente, é possível ter jornadas de trabalho de três horas por dia para que o resto do tempo seja consagrado ao desenvolvimento intelectual, aos lazeres e ao descanso. Diminuição da jornada de trabalho Quase 150 anos após a publicaçao de “Direito à Preguiça”, de Paul Lafargue, muitos países vêm apostando, ainda que de forma experimental, em projetos para a diminuição da carga horária dos empregados. Portugal, que é um dos países com as maiores jornadas de trabalho entre as nações que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), começará a testar a semana de quatro dias a partir do segundo semestre deste ano. Paralelamente, diversos estudos mostram que a redução do tempo de trabalho não é benéfico apenas para o trabalhador, mas para as empresas também. Um desses estudos foi divulgado no final do ano passado, realizado por pesquisadores das universidades de Boston, Dublin e Cambridge, dentro de um projeto piloto, com a participação de cerca de 30 empresas. A pesquisa constatou que a semana de quatro dias trouxe, além de mais satisfação, uma melhor saúde e menos ociosidade dos funcionários, um aumento dos lucros ao empregador. Na França, algumas iniciativas são adotadas por certas empresas para diminuir a carga de trabalho, mas poucas respeitam as 35 horas semanais previstas por lei. E embora o governo queira aumentar a idade mínima para a aposentadoria de 62 para 64 anos, boa parte dos franceses para de trabalhar antes dos 60 anos. De acordo com o último relatório, de 2021, do Conselho de Orientação da Previdência da França, apenas 26% dos cidadãos seguem em atividade aos 62 anos. Ainda assim, o governo se mostra extremamente inflexível sobre a questão. A primeira-ministra Elisabeth Borne declarou em diversas ocasiões que não haverá qualquer negociação sobre a idade mínima para a aposentadoria. A atitude irrita a classe trabalhadora: pesquisas mostram que, em média, 70% dos franceses são contra o projeto de reforma da Previdência. Desde o início deste ano, cinco dias de greve e protestos levaram milhões de pessoas às ruas contra os planos do governo Macron. As centrais sindicais também prometem não ceder. A próxima greve geral está marcada para 7 de março. Diversos setores, como o de transportes públicos, de refinarias e da educação, já anunciaram que participarão da mobilização. Trabalhadores do setor ferroviário planejam realizar uma paralisação ainda mais longa, de talvez até dez dias.
    3/3/2023
    13:50
  • França acolhe 100 mil refugiados ucranianos; a maioria não vê a hora de voltar para casa
    A guerra na Ucrânia entrou em seu segundo ano nesta sexta-feira (24) sem nenhuma perspectiva de trégua. Os 100 mil refugiados ucranianos acolhidos no território francês estão mais do que nunca preocupados com familiares e amigos que deixaram para trás. Apesar de se sentirem bem acolhidos, eles só têm um sonho: voltar para casa e reconstruir o país.  O retorno da guerra na Europa tem enorme impacto no dia a dia dos franceses, que são inundados de imagens atrozes das trincheiras no leste da Ucrânia, seja em reportagens na TV ou vídeos postados pelos soldados nas redes sociais. Milhares de homens jovens morrem diariamente sob as bombas dos dois lados, o que parecia impensável depois de dois conflitos mundiais. Russos e ucranianos travam uma guerra de alta intensidade, comparada à barbárie que foi a Primeira Guerra Mundial. O futuro de dois países e de boa parte do mundo está comprometido pelo que historiadores e analistas citam como uma "loucura" do poder revisionista do presidente russo, Vladimir Putin. Na França, a opinião pública tem grande admiração pela coragem e resiliência dos ucranianos. Uma pesquisa recém-publicada pelo instituto Ipsos mostra que para 56% dos franceses, o governo deve continuar apoiando a Ucrânia, inclusive enviando armas, até a retirada completa das forças russas. Entre os mais velhos, com mais de 50 anos de idade, esse apoio sobe para 66%, porque eles têm uma consciência mais sensível sobre os horrores vividos nos períodos de ocupação das duas grandes guerras na Europa.  A França acolhe atualmente 100 mil refugiados ucranianos; 90% são mulheres e crianças, já que os homens de 18 a 60 anos de idade não podem deixar o país por causa da lei marcial. Em um ano, a França absorveu 20 mil crianças e adolescentes na rede pública de ensino. Houve alguns períodos de retorno, mas agora este número se estabilizou. A maioria vive em Paris, Nice e Estrasburgo. O governo francês concedeu autorização de trabalho temporário para 65 mil refugiados, que encontraram emprego em setores com falta de mão de obra: em hotéis, restaurantes e no comércio. O Estado francês gastou até agora € 500 milhões (R$ 2,7 bilhões) para receber os refugiados, verba que paga despesas de alojamento e um auxílio mensal de subsistência. O acesso à escola e o atendimento de saúde é gratuito para os ucranianos.  Nas escolas, professores e alunos se adaptaram bem à nova realidade. As crianças ucranianas aprendem rapidamente o francês e as mães se sentem bem acolhidas. Essas famílias deslocadas são provenientes de todas as regiões da Ucrânia, inclusive de áreas em que falavam russo – a população que Putin alegou que precisava "salvar do genocídio" na Ucrânia.  Há famílias de Mariupol, Zaporíjia e Odessa, onde 80% da população fala russo, entre outras cidades. O presidente Volodymyr Zelensky também fala russo fluentemente.  Os diretores de escola dizem não ver rivalidade entre os alunos refugiados. Algumas crianças brincam dizendo que o mais difícil é aprender a história da França.  A única queixa dessas famílias é que elas mudaram várias vezes de casa em um ano, por depender de quartos e apartamentos oferecidos pelos franceses. Mas a rede de solidariedade funciona bem. Posição do governo Lula na guerra A proposta do presidente Lula de criar um clube de países para negociar a paz entre Rússia e Ucrânia, conta com o apoio declarado do presidente Emmanuel Macron. Desde o início do conflito, Macron privilegiou o diálogo com Putin. Mas essa disposição não resultou em qualquer avanço, e o líder francês passou a ser cobrado por sua ambivalência.  Nesta sexta-feira, data em que a guerra entra no segundo ano, Macron disse que a França estará ao lado da Ucrânia até a vitória. Ele defendeu a necessidade de aumentar a pressão contra a Rússia, depois de declarar há poucos dias que era preciso "não humilhar" Moscou. A Rússia diz que estuda o plano proposto pelo presidente Lula, mas tudo depende da situação no campo de batalha, segundo um comunicado do Kremlin. A China também defende o diálogo entre as partes, mas Putin insiste que não abrirá mão do reconhecimento dos quatro territórios que anexou em outubro passado sem sequer controlá-los na Ucrânia. Isolado, o presidente russo busca uma vitória para se manter no poder.   Emergência de nova ordem mundial As iniciativas diplomáticas em busca da paz são bem-vindas. Mas a questão é saber se a Rússia, depois de invadir um país independente, sairá desse conflito levando uma parte do território ucraniano, o que significará que a força terá prevalecido sobre o direito, com consequências imprevisíveis em outras regiões do mundo. O estabelecimento de uma nova ordem internacional oriunda desse uso da força é a principal preocupação dos europeus. Os europeus não são ingênuos, eles sabem que a ordem internacional do pós-guerra, de dominação ocidental, está em declínio absoluto. Hoje, existe um grande número de países não alinhados. Rússia e China atuam em parceria para construir uma outra ordem mundial, algo que o Brasil também almeja.  Os europeus apoiam a Ucrânia pela proximidade geográfica que a ameaça russa representa e para impedir que o modelo democrático liberal seja substituído por modelos autocráticos. Na percepção dos europeus, a Ucrânia tornou-se um espaço onde se trava uma guerra de valores, de princípios de liberdade, estabilidade e segurança que foram conquistados a duras penas depois de séculos de guerras entre os povos do continente. A invasão russa já modificou o equilíbrio de forças dentro do bloco, entre oeste e leste, com a Polônia e os países bálticos crescendo em influência, depois de terem alertado Alemanha e França durante anos sobre o risco que a Rússia representava em termos de segurança.  Sem a Otan e os Estados Unidos, por falta de um sistema próprio de defesa, os europeus não tinham outra saída neste momento a não ser se unir novamente numa frente ocidental. As capitais europeias conhecem os planos expansionistas da China e o espaço que a Rússia conquistou na África e no Oriente Médio nos últimos anos. Fontes de inteligência da França e dos Estados Unidos afirmam que Pequim, apesar de negar, tem ajudado a Rússia com armas e componentes. Agressão não pode ser recompensada, diz chanceler Em entrevista ao jornal Le Parisien nesta sexta-feira, a ministra francesa de Relações Exteriores disse que a Rússia sofre uma derrota "estratégica, política e moral". "Não haverá paz e estabilidade em nenhum lugar se as agressões forem recompensadas", explicou. "Basta abrir um livro de história para compreender isso", completou. Com o objetivo de reafirmar a solidariedade com o sofrimento dos ucranianos, várias cidades francesas estão promovendo eventos públicos para arrecadação de doações. Simbolicamente, a Torre Eiffel ficará iluminada até domingo (26) com as cores amarela e azul da bandeira ucraniana, em apoio à coragem do país de enfrentar o Exército russo com tanta união e bravura.
    2/24/2023
    7:59

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