Samuel Rocha mostra evolução do chorinho no 19° Festival Internacional de Choro de Paris
O violonista, compositor e arranjador Samuel Rocha veio especialmente do Brasil para participar do 19° Festival Internacional de Choro de Paris que começa nesta sexta-feira (24). Referência na cena do choro e da música instrumental do Ceará, ele lança o disco “Bordando o Sete”, acompanhado pelos músicos Felipe Bastos, bandolim, Tauí Castro, pandeiro, e Paulo Maurício, clarinete.
O Festival Internacional de Choro de Paris, dirigido por Maria Inês Guimarães, acontece até o próximo domingo (26) na Casa do Brasil da Cidade Universitária, propondo shows, oficinas e rodas de músicas, encontros e conferências. Samuel Rocha ministra oficinas e faz seu show no sábado (25). “Participar do Festival de Choro de Paris, que é muito conhecido no Brasil, e estar representando não só a música brasileira, mas a música nordestina, é um motivo de muita felicidade”, diz o compositor.
“Bordando o Sete” é o primeiro trabalho solo de Samuel Rocha. O disco é composto por oito músicas autorais, que dão protagonismo ao violão de sete cordas, o instrumento de Samuel Rocha. O “bordando” do título é uma referência ao “bordado, a costura” que o violão de sete cordas faz paralelamente a melodia.
"Tem a música principal, o tema principal acontecendo e o paralelo a tudo isso, eu estou fazendo os meus bordados, eu estou costurando as frases com outra melodia paralela à melodia principal”, explica. Mas a improvisação, que faz parte da alma do choro, também está presente tanto no CD quanto no show
Evolução e modernidade
O protagonismo do violão de sete cordas, que normalmente não é um instrumento de solo no choro, é uma nova tendência do estilo musical. Essa evolução não incomoda Felipe Bastos ou Paulo Maurício, que tocam respectivamente bandolim e clarinete, que tradicionalmente são instrumentos de solo no chorinho.
“Tem momentos que ele aparece um pouco mais, mas tem momentos que é o bandolim, o solo, tem momentos que é o clarinete. Então, ficou uma mescla muito legal nesse CD porque todo mundo tem um pouco de protagonismo, entendeu? O violão de sete cordas tem essa modernidade hoje de também ser solista”, poderá Felipe Bastos. Paulo Maurício concorda, dizendo que também faz os seus “bordados” com a sua clarinete no show.
Além de tocar pandeiro, Tauí Castro também é produtor e pesquisador do choro. Ele confirma que “uma das características do choro é essa constante mudança. A gente não pode pensar que o choro está cristalizado numa forma fixa ou naquela imagem em preto e branco que a gente vê nos filmes ou nas novelas de antigamente”.
Turnê europeia
A participação no Festival Internacional de Choro é apenas uma das etapas da turnê europeia dos quatro músicos, que já se apresentaram em Colônia, na Alemanha.
Depois de Paris, seguem para as cidades francesas de Palaiseu, Albertville, Toulouse e Strasbourg. A turnê é resultado de um intercâmbio iniciado em 2022, durante o VI Seminário Euro-brasileiro de Choro, realizado em Fortaleza. O evento reuniu músicos brasileiros e europeus em oficinas, concertos e rodas de choro com o objetivo de divulgar o gênero musical brasileiro no exterior.
“Perceber o amor que os europeus têm pela nossa música brasileira (...) nos motiva ainda mais para, ao voltar para o Brasil, continuar esse trabalho de fomento. É muito mais do que tocar. A gente tem essa obrigação de voltar e continuar reforçando e valorizando ainda mais essa nossa música brasileira”, salienta Samuel Rocha.
Tauí Castro completa dizendo que o choro, primeiro ritmo urbano genuinamente brasileiro, não é uma “música de massas” e “carece muito de políticas públicas para o seu fortalecimento. (...) Ele ainda precisa de muito investimento público e eu acho que a gente está num momento propício para isso nesse novo governo”.
Clique na foto principal para ver a entrevista completa e a interpretação da música “Aquiles na Gafieira”, uma das faixas do disco “Bordando o Sete”, de Samuel Rocha.